terça-feira, 27 de outubro de 2020

Cromada

Cantou de cromada no banco sem o detector acusar
Era o Dia D, De fazer até a própria mãe chorar
É sua primeira vez é impossível aquietar, ansioso
E quem nunca ligou pra ele hoje vai filmar

Nunca teve roupa boa, esse é seu traje de gala
É o tipo de pessoa que você não quer no sofá da sua sala
E quando fala joga na vala seu português correto
Phd em Racionais, ginga e fala gíria, gíria não, dialeto!

O mais esperto da turma quase sem oportunidade
Era uma chance pra fazer amor e samba até mais tarde
Mas foi trampo balde, pano e espuma em lava rápido
Um final triste pra um potencial musicista clássico

E nesse dia pôs o pé onde só o dinheiro vale
Fruto da violência, ia mostrar tudo que sabe
Cabelo na régua pros aliados ver na reportagem
Deu brilho na peça agora era ele e a coragem

E as cortinas abrem...

Se a vida é um show eu que abri as cortinas pra subir no palco
Mãos pro alto, mãos pro alto

Centro Cultural Banco do Brasil
XVI Amostra de Arte Infanto-Juvenil
Plateia cheia pra quem se acostumou com bolso vazio
O locutor chama seu nome na barriga sente um frio

Sobe no palco com a gaita cromada brilhando afinada em Dó
E a professora tranquila sabia que ele é o melhor
Notas limpas, roupas limpas que comprou com seu suor
Performance fantástica arranca lágrimas da mãe e da avó

Emociona o público ao fim do show menino ovacionado
Derramou lágrimas no palco e não seu sangue no asfalto
Foi um grande salto o queriam de band num assalto
Mas ele é o diamante da lama e os ladrões estão no planalto

Reveja seus atos, agradeça ao rap de mensagem 
Deram uma chance e ele agarrou-a com vontade
Tá na TV da sua sala e não de radinho na laje
Eis que cortinas se fecham, com esse verso mentes abrem


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