quarta-feira, 16 de julho de 2014

Alpinista de Ladeira

Ele não queria usar crachá
era diferente
preferia contar
do que deixar aparente

Era vivente

Ciente que tudo há-de passar
Fez entender

Que o tempo não vai matar
Quem não deixar o tempo morrer

Não queria usar crachá
pois tem identidade

Sabe que é de verdade
E que na realidade
tudo há-de se diluir

Fez-se rocha pra correnteza não o carregar

Fez-se água-mole e bateu até ver a rocha chorar

Secou mares
Inundou olhares pelos seus
Foi Cruzada ao ver ateus
implorarem pelo amor de Deus

Foi o bêbado e o equilibrista

... Não capotou...

Captou o que a TV não veicula

Viu Dom Pedro borrado gritando em cima da mula

[Pausa dramática]

Não tem ego de balão
que estoura se envaidece
Tem terra e na sua terra
Tudo que  planta, cresce

Lá floresce e apodrece com naturalidade
O que é normal pra quem sempre buscou contato de verdade

Sua idade não mentiu
Sua existência existiu

Não se pergunta
"Porquê eu?"
Por que a vida o respondeu,
quando não o respondeu

[Pausa dramática]

Morou em becos
Sobreviveu com sobras da cidade
Fez das batidas do seu coração
Ecos de eternidade

Criou os filhos da música
livres para crescer
Botou Catira e Jongo
no mainstream da MPB

Tocou Raul pra lua em noites de fino trato

Tocou Cazuza na borda de piscinas cheias de ratos

Foi ouvinte de monólogos de surdos em serenata
E viu sapos na garganta
se enforcarem
em nós de gravata...

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