era diferente
preferia contar
do que deixar aparente
Era vivente
Ciente que tudo há-de passar
Fez entender
Que o tempo não vai matar
Quem não deixar o tempo morrer
Não queria usar crachá
pois tem identidade
Sabe que é de verdade
E que na realidade
tudo há-de se diluir
Fez-se rocha pra correnteza não o carregar
Fez-se água-mole e bateu até ver a rocha chorar
Secou mares
Inundou olhares pelos seus
Foi Cruzada ao ver ateus
implorarem pelo amor de Deus
Foi o bêbado e o equilibrista
... Não capotou...
Captou o que a TV não veicula
Viu Dom Pedro borrado gritando em cima da mula
[Pausa dramática]
Não tem ego de balão
que estoura se envaidece
Tem terra e na sua terra
Tudo que planta, cresce
Lá floresce e apodrece com naturalidade
O que é normal pra quem sempre buscou contato de verdade
Sua idade não mentiu
Sua existência existiu
Não se pergunta
"Porquê eu?"
Por que a vida o respondeu,
quando não o respondeu
[Pausa dramática]
Morou em becos
Sobreviveu com sobras da cidade
Fez das batidas do seu coração
Ecos de eternidade
Criou os filhos da música
livres para crescer
Botou Catira e Jongo
no mainstream da MPB
Tocou Raul pra lua em noites de fino trato
Tocou Cazuza na borda de piscinas cheias de ratos
Foi ouvinte de monólogos de surdos em serenata
E viu sapos na garganta
se enforcarem
em nós de gravata...
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